terça-feira, junho 06, 2006

Rumual Ékissa!!!

Grávidos de Hexa

Quem já teve filho sabe o que é essa reta final da espera. A dez dias da estréia na Copa do Mundo, o Brasil viverá uma semana de grande ansiedade para saber enfim que carinha tem, como se comporta e, sobretudo, qual o sexo desse time do Parreira. Nada disso ficou muito claro no tipo de amistoso que o técnico escolheu para acompanhar a gestação do hexa. Não houve ultra-sonografia. No caso da Alemanha, por exemplo, deu pra ver a seleção anfitriã por dentro no teste contra o Japão.

Todos nós esperamos uma coisa linda. Como diz o outro, “nunca na história desse país” tivemos tanta certeza de que vai dar tudo certo. Ainda que a expectativa da perfeição possa ser decepcionante, como teme Pelé e outros bobos, estou adorando essa sensação de que o Hexa vai ser lindo. O Brasil vai dar à luz filhos como Ronaldo, Adriano, Ronaldinho, Robinho, o avesso dos meninos do tráfico. O país deles é lindo, também. Um lugar onde os pobres ascendem ao topo mais alto com talento próprio e oportunidades de ouro.

Se tudo der certo no parto do Hexa, o Brasil vai reencontrar por algum tempo o orgulho de um país que, sabemos, não existe, mas e daí? Esse papo de que o futebol é o ópio do povo, como dizia o Zé Dirceu e outros bobos no tempo em que ainda havia esquerda, francamente, drogas muito mais pesadas andam rolando por aí. Um estimulozinho para que a gente volte a se achar um povo bonito não faz mal a ninguém. Eu, pelo menos, estou louco para voltar a achar esse país moleque, vigoroso, surpreendente, sorridente, feliz, feliz como imagino seremos nessa Copa do Mundo.

O problema é que faltam ainda dez dias para o quadrado mágico entrar em trabalho de parto. O que fazer até lá é que são elas, considerando-se que está tudo absolutamente pronto para o nascimento do Hexa há pelo menos duas semanas. Aqui no Brasil a gente ainda tem mais o que fazer, como acompanhar o caso dos sanguessugas e tomar cuidado com as balas perdidas, mas imagina só como foi tediosa a espera todos esses dias em Weggis, escala suíça da Seleção, que a partir de amanhã estará em Königstein, já na Alemanha, fingindo que ainda faltam alguns acertos para trazer ao mundo a coisa mais linda na face da Terra.

Bem que alguns jogadores ainda tentaram quebrar a monotonia numa boate em Lucerna, mas, a julgar pelas fotos publicadas por um jornal sensacionalista suíço, tudo o que Ronaldo, Roberto Carlos e Emerson conseguiram foi desmoralizar a noitada. Os jornalistas também fazem o que podem, mas não havia em Weggis na sexta-feira uma só dançarina brasileira que já não tivesse sido entrevistada sobre absolutamente tudo, do cheiro do queijo suíço às coxas do Roberto Carlos.

A falta de assunto atingiu seu clímax no jantar que Parreira ofereceu na quarta-feira a meia dúzia de colunistas esportivos numa cave de Weggis. Segundo Fernando Calazans, do “Globo”, o técnico “discorreu sobre Monet, Degas, Van Gogh, Portinari, Di Cavalcanti, Cícero Dias...”, um timão. Emotivo do jeito que é, Armando Nogueira chorava copiosamente entre um cálice e outro de Château Huit-Rom, de 1983. Uma pena que Nelson Rodrigues não tenha sido convidado para o convescote.

Nosso complexo de cachorro vira-lata está de férias. Somos, até prova em contrário, os melhores do mundo, e não se fala mais nisso antes da bola rolar na Copa do Mundo. Os próximos dez dias – o Brasil estréia dia 13 contra a Croácia – não servirão para absolutamente nada, tente controlar sua ansiedade. Vai dar tudo certo!

Texto by
Tutty Vasques

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